ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 27.10.1994.

 


Aos vinte e sete dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e noventa e quatro reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e dois minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto, de acordo com o Requerimento nº 25/94 (Processo nº 1246/94) de autoria da Vereadora Maria do Rosário. Compuseram a Mesa: o Vereador Airto Ferronato, 1º Vice Presidente desta Casa no Exercício da Presidência, o Homenageado, Senhor Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto, o Senhor João Pedro Rodrigues Reis, Procurador Geral do Município e Representante do Senhor Prefeito Municipal, o Senhor Firmino Cardoso, representante da Associação Riograndense de Imprensa, o Senhor José Freitas, Presidente Regional do Partido Comunista do Brasil. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome das Bancadas nesta homenagem. A Vereadora Maria do Rosário, em nome das Bancadas do PC do B, PTB, PMDB, PPR, PFL, PP e PSDB, destacou dados da biografia do homenageado, lembrando sua trajetória política em prol da causa do socialismo e da cidadania. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, lembrou a participação do homenageado na constituinte de mil novecentos e quarenta e seis, rememorando o seu engajamento pela causa do socialismo e sua participação na redemocratização do País. O Vereador Clóvis Ilgenfritz, em nome da Bancada do PT, lembrou a importância do homenageado como exemplo e referencial na formação de toda uma geração política que resistiu ao período autoritário no Brasil, destacando a justeza do Título ora outorgado. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, declarou que o homenageado representa um ciclo que não foi completado daqueles que aspiram a um ideal de democracia e justiça social ainda não realizados. Disse que o Senhor Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto representa um importante exemplo para a sua geração e para as vindouras. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à entrega do Diploma ao homenageado, realizado pela Vereadora Maria do Rosário. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença no Plenário da Vereadora Luiza Marques, do PMDB de Alegrete. Logo após, o Senhor Presidente manifestou-se sobre a presente outorga e, às dezesseis horas a dezesseis minutos, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, agradecendo a presença de todos. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato, nos termos regimentais e secretariados pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Clóvis Ilgenfritz, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia do documento original.)

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene que tem por finalidade a entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto.

Para compor a Mesa nós convidamos o nosso ilustre homenageado Dr. Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto. Convidamos, também, o Exmo. Sr. representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Dr. João Pedro Rodrigues Reis; o Exmo. Sr. representante da ARI, Jornalista Firmino Cardoso; o Exmo. Sr. Presidente Regional do PC do B, Sr. José Freitas.

Senhoras e Senhores, queremos registrar, como primeiro Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, a nossa satisfação de poder presidir esta Sessão Solene que concede o Título a tão ilustre figura de Porto Alegre. Aproveito a oportunidade, também, para cumprimentar a Vera. Maria do Rosário, que é a proponente desta Sessão. Convidamos a todos para que, em pé, ouçamos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Vamos conceder a palavra à Vera. Maria do Rosário, proponente da ação, que falará pelas Bancadas do PC do B - sua Bancada -, do PMDB, do PTB, do PPR, do PFL, do PP e do PSDB.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente desta Sessão, Ver. Airto Ferronato; Exmo. Sr. homenageado, Dr. Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto; Exmo. Sr. representante do Prefeito Municipal, Dr. João Pedro Rodrigues Reis; Exmo. Sr. representante da ARI, Jornalista Firmino Cardoso; Exmo. Sr. Presidente Regional do PC do B, José Freitas; Vereadores; Porto Alegre; amigos; pessoas que acompanham esta Sessão, que é uma homenagem ao Dr. Antonio Pinheiro Machado.

Despreendimento, dignidade, confiança em seus ideais, detentor de uma biografia exemplar, qualidades que gostaríamos de destacar e que fizeram de Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto um cidadão imprescindível ao nosso tempo, ao momento das nossas vidas e à Cidade de Porto Alegre que, neste momento, lhe confere um título, o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Foi com esse sentimento, tenho certeza, que todas as Bancadas desta Casa, todos os Vereadores desta Casa, que representam o pluralismo de idéias presentes na nossa sociedade, aprovaram a concessão do Título de Cidadão Emérito ao Dr. Pinheiro Machado.

Pinheiro Machado Netto é um desses homens que se tornam imprescindíveis pela luta cotidiana que travam. Sua atividade política começou cedo no movimento estudantil, como uma liderança de massas estudantis e, graças a essa liderança que desenvolveu, obteve a eleição para deputado estadual aos 22 anos. Em 1946, ao lado de figuras como Dyonélio Machado e Otto Ohlweiler compôs a Bancada Estadual do Partido Comunista do Brasil, PCB. A vida parlamentar de Pinheiro Machado, no entanto, foi curta, pois, já em 1948, o registro e os mandatos do Partido foram cassados, como conseqüência da radicalização do Governo Dutra, seguindo o espírito da Guerra Fria.

Mas a atividade de Pinheiro Machado não se restringia à política do Parlamento. A partir da sua atividade, como liderança de massa, e da sua presença parlamentar, a vida lhe apontou caminhos que ele abraçou com prontidão. Continuou atuando na comunidade porto-alegrense e na vida esportiva, sendo dirigente do Esporte Clube Cruzeiro, quando idealizou e comandou a excursão do time à Europa, Ásia e a África, fato, até então, inédito para um clube gaúcho.

Sempre a frente, Pinheiro Machado enfrentou a perseguição do Regime Militar de 1964, a ele e a sua família. Foram estas restrições que levaram ao fechamento do Educandário Cecília e sua proposta inovadora de educação.

Na vida acadêmica, Pinheiro demonstrava a mesma persistência e dedicação das outras atividades. Mesmo advogado há muito tempo, prestou vestibular de História, concluindo o curso com láurea acadêmica. Em função disso, foi premiado com um Curso de Extensão na Universidade de Roma.

Advogado militante, defendendo as causas dos trabalhadores, participou do Conselho Federal da OAB. Atualmente, atua no Conselho Mundial da Paz e em organização de solidariedade entre os povos.

Cidadão Emérito é um título apropriado para homenagear o Dr. Pinheiro, pela capacidade que ele demonstra em exercer plenamente sua cidadania e pelos méritos acumulados na sua vida tão intensamente dedicada às causas populares nas diversas áreas em que atua.

Conhecer, conviver com uma pessoa como o Dr. Pinheiro que, ao longo de seus 70 anos, manteve-se sempre tão ativo, faz-nos refletir sobre a importância de preencher nossa existência com um ideal, com o desejo de igualdade, de transformação. No caso do Dr. Pinheiro, o ideal à causa do socialismo, por ele abraçada na juventude, tem sido o alimento, a energia que o faz capaz de superar os obstáculos que lhe são impostos. O Dr. Pinheiro tem unido consciência e paixão nas coisas que faz e parece-nos que só assim, com paixão, dedicação e consciência, podemos deixar uma marca na vida dos nossos contemporâneos e na história que construímos. A presença marcante do Dr. Pinheiro em tudo que fez testemunha, mais do que em qualquer discurso, a grandeza da sua personalidade. Mais do que um cidadão, consideramos o Dr. Pinheiro Machado Netto, um sujeito histórico e um ativo construtor do futuro, nos dias de hoje.

Na atualidade, questionam-se valores básicos, como a solidariedade, a abnegação e a doação pessoal. Vivemos num momento em que o individualismo, a perseguição cega, o lucro e as vantagens particulares estão à frente de qualquer ideal. A figura desse homem destaca-se como um depoimento vivo de dedicação e luta por um ideal, um depoimento de abnegação, de despreendimento presente na figura desse homem que expressa a defesa que faz da autodeterminação, da solidariedade entre os povos e, particularmente, na relação que estabelece na defesa do povo cubano, vítima dos dias de hoje e, há trinta anos, de um boicote genocida e tão necessitado da solidariedade internacional, para que possa, com paz, determinar o seu destino. Essa disposição permanente de defender causas que não são somente suas, mas de toda a sociedade, combina-se com um profundo vínculo que o liga aos seus familiares, aos amigos, tornando-o querido por todos que com ele convivem.

Nesses momentos em que compartilhamos a sua presença e na satisfação de termos proposto a esta Casa o Título de Cidadão Emérito ao Dr. Pinheiro Machado Netto, temos observado a combinação de luta, de dedicação, de lealdade e de carinho que nos deixa plenamente à vontade para homenageá-lo com um título que, apenas do nosso ponto de vista, oficializa o que de fato o Dr. Pinheiro Machado Netto tem sido ao longo de toda a sua vida: um cidadão, na compreensão mais profunda do termo. Um abraço a todos os familiares e que a grandeza deste momento seja possível de ser repassada a todos os que nesta Casa convivem, para que este espaço legislativo tenha a grandeza de vida que ele nos deixa como testemunho nos dias de hoje. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar a presença do Ver. João Verle.

Está com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, em nome do PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Cumprimenta os componentes da Mesa.) Srs. Vereadores, familiares do Pinheirinho, amigos do Pinheirinho, Senhoras e Senhores. Esta não é uma Sessão nostálgica, até porque o caráter do nosso homenageado e a sua trajetória nos impõem falar mais no futuro do que no passado. É verdade que o passado é a âncora onde nós vamos buscar o suporte para as nossas atividades futuras e a âncora do Pinheirinho é antiga. Eleito deputado estadual com 22 anos, uma indicação surgida de uma manifestação popular, pelo antigo PCB, Partido Comunista do Brasil, integrou a Bancada de três deputados estaduais que foram os constituintes depois da redemocratização, junto com as figuras excepecionais de Dyonélio Machado, de Otto Alcides Ohlweiler e um nome que não pode ser esquecido, que acabou sendo o suplente e que por longo tempo exerceu a função de deputado, a do inovidável Júlio Teixeira, amigos que foram de assídua convivência e de perfeito entendimento. A trajetória política de Pinheiro Machado Netto é conhecida da Cidade, por isso, o Título que hoje esta Casa lhe confere é da mais absoluta justiça. A Vera. Maria do Rosário foi muito feliz em propor o Título, que foi aceito por todos.

Pinheiro Machado Netto é conhecido por todos, atuando no campo jurídico, defendendo as causas mais próximas da população que lhe conferem esse caráter. Eu aproveito para lembrar a circunstância feliz de o Pinheirinho ter ido, já em idade avançada, para os bancos escolares fazer o curso de História, porque isso significa uma visão crítica daquilo que uma parte da nossa geração - eu me incluo nela - desposa: um ideal generoso que, por obra do homem, foi, ao longo do tempo, sendo deturpado. E a configuração que temos de um mundo futuro, em outro patamar, deve ser preservada, para que o reconstruamos de acordo com uma nova ótica. O mundo, e o Pinheirinho sabe disso melhor do que ninguém, está mudando a cada dia, e velozmente. Entraremos no terceiro milênio num outro patamar de visão econômica, política, social e existencial; e nada melhor que um estudante da História para entender essas mutações.

Espero que possamos conviver por muito tempo ainda com o Pinheirinho, para usufruirmos da sua experiência, da sua acuidade, de todas essas coisas que estão por vir, para que todos possamos elaborar um novo projeto: um projeto social mais dinâmico, mais justo, com vistas àquilo que acreditamos seja o futuro da humanidade; uma época de transição para uma etapa posterior, que a gente nem sabe bem como é que vai ser. Nós somos oriundos da bela idéia socialista; desposamos essa idéia com muito carinho; padecemos por ela. Hoje, momentaneamente, estamos atrapalhados, mas não descremos desse ideal, continuamos crendo nele, só que os caminhos a serem atingidos hoje vão por outras vias. Isso ao estudante de História, ao homem que se dedica a perquirir esse futuro - o que será a humanidade no ano 3.000, dali em diante - é muito importante.

O PPS, que é o sucessor do velho PCB, associa-se emocionado a esta homenagem que presta ao velho companheiro. Os nossos desvios foram obra do próprio homem; nós teremos, como homens, a responsabilidade de retomá-los. Isso, eu acho que nós podemos fazer. Acena-me o companheiro Ver. João Verle para que eu fale também em nome do PT, mas sei que o Ver. Clovis Ilgenfritz vai falar em nome do PT. Nós somos parceiros, todos nós, PT, PPS, PC do B, PCB - o que restou dele - PSB, somos parceiros de uma caminhada em que estamos prestes a atingir um degrau muito significativo aqui, em nosso Estado. E o nosso Cidadão Emérito desta Cidade há de sentir-se alegre e satisfeito quando esse desfecho vier a acontecer no dia 15 de novembro, porque participou durante muitos e muitos anos dessa caminhada. Todos nós nos sentiremos um pouco aliviados quando isso acontecer. Tenho certeza de que poderemos contar com o Pinheirinho por muito tempo ainda, para nos ajudar a formular os caminhos pelos quais teremos que trilhar nessa longa caminhada do homem pela face da Terra e, sobretudo, com as vistas sempre presentes no horizonte, que é o horizonte socialista do homem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar a presença da Vereadora Luiza Marques, do PMDB de Alegrete.

O Ver. Clovis Ilgenfritz está com a palavra, e fala em nome de seu Partido, o PT.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, Ver. Airto Ferronato; nosso querido homenageado, Dr. Antonio Pinheiro Machado Netto; Senhores Vereadores; Senhoras e Senhores presentes a esta homenagem. Seguramente estaríamos otimamente representados pelo Ver. Lauro Hagemann, mas nós conseguimos mudar a nossa agenda e temos a felicidade de chegar aqui ainda em tempo de dividir um pouco este espaço com muita honra e com muito prazer, e também com a presença do nosso Líder Ver. João Verle. Eu queria dizer aos senhores, às senhoras e a essa platéia que a gente está acostumado a encontrar há muito tempo os caminhos da vida, principalmente da luta pela democracia, que homenagear um cidadão dos Pinheirinhos, como nos acostumamos a chamar a família - mas qual o Pinheirinho? O Luiz Carlos? O Dulphe? Qual deles? - é sempre uma honra, pois é uma família - os irmãos que citei agora, mais os filhos, inclusive uma colega minha, a Denise - que a gente aprendeu a respeitar e estimar. Mas, sobretudo, eu queria dizer ao Cidadão Pinheiro Machado que nós ouvimos o discurso da Vera. Maria do Rosário, que falou do trabalho, assim como o Ver. Lauro Hagemann falou também, magnífico exemplo de vida para o futuro, e que nós - eu me considero e, tendo certeza, muita gente aqui dentro - somos aqueles que eram o futuro, aqueles que seguiram os passos e o exemplo de pessoas como o Pinheiro Machado, que está sendo homenageado hoje.

Eu era bem jovem quando cheguei em Porto Alegre. Tinha uma influência política forte de Casa, de pessoas da minha região, da minha cidade. Mas, chegando em Porto Alegre, nos primeiros momentos, já na vida acadêmica, na universidade, na Faculdade de Arquitetura, famosa faculdade de esquerda, tivemos o primeiro confronto com o regime militar, quando onze, dos doze professores foram cassados. E nós temos a honra de dizer que eram professores da Arquitetura. Eu vivia ali naquele meio, como estudante, e sempre me referenciando naqueles que me deram a origem, mas, depois, em pessoas desse chamado mundo das esquerdas. Pessoas que nem sempre estavam muito livres para dizer para a gente aquilo que a gente precisava ouvir e gostaria de falar. Não sei quantas foram as reuniões que nós, como jovens, fizemos às escondidas, em lugares “secretos”, para poder discutir com pessoas que estavam querendo formar novas consciências; e essas novas consciências para o futuro éramos nós. Eu me sinto muito à vontade para dizer que, junto com uma geração muito grande, sou um daqueles que procurou seguir aquele caminho: na organização sindical, na organização comunitária, na luta estudantil, aprendendo, também, com os líderes dos trabalhadores. Na época, os mais próximos de nós eram os líderes da Carris. Assim, fomos seguindo nossos passos, sempre tendo uma orientação, sempre tendo em quem nos espelhar, com quem nos aconselhar. O nosso homenageado figurou, seguramente, em todo esse processo, como uma das pessoas que mais influiu nessa geração.

Anos mais tarde, ou até nem muito mais tarde, nós aprendemos a ver, também, o processo de defesa, da autonomia, da liberdade dos povos, fundamentalmente em relação a Cuba, onde estive ainda em 1963. Ouvíamos falar e tínhamos referências de pessoas como Antonio Pinheiro Machado Netto, sobre o Conselho Mundial da Paz, já referido aqui, pela nossa colega Vera. Maria do Rosário, que teve a feliz idéia de propor esta homenagem.

Então, Prof. Antonio Pinheiro Machado Netto, a formação da consciência política, a causa do socialismo, a luta pela cidadania, trouxe a esta Casa, hoje, um dos cidadãos que, além de ser um formador da consciência da cidadania tem um título especial, que é o de Cidadão da Cidade onde ele mora, Cidadão Emérito, mais do que o simples cidadão que já conquistou a sua cidadania, mas que está sendo homenageado pelos seus concidadãos como Cidadão Emérito.

Eu queria dizer-lhe que este Título é dado ao Senhor, mas, muito mais do que isto, é dado à comunidade de Porto Alegre, como um exemplo de como devem ser os cidadãos.

Esta é uma homenagem justa e nós temos a máxima honra de estar participando deste momento, construindo o futuro, mas com uma ação firme, corajosa, sem medo de atuar no presente, sejam quais forem as circunstâncias, como falava antes com um antigo lutador que está aqui também, junto com tantos outros, que é o Cel. Pedro Alvarez, também uma das referências de toda essa trajetória.

Um abraço ao homenageado, aos familiares, em nome do Partido dos Trabalhadores, que segue essa trilha junto com os outros Partidos que já desfilaram aqui. Seguramente vamos ouvir também o PDT, através do companheiro Isaac Ainhorn. Nós, do PT, temos a máxima satisfação de representar a Bancada neste momento. Um abraço.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra em nome do PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Ver. Airto Ferronato; meu caro e querido homenageado Dr. Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto; representante do Prefeito Municipal, Sr. João Pedro Rodrigues Reis; Sr. Firmino Cardoso, representante da Associação Riograndense de Imprensa; Presidente Regional do PC do B, Sr. José Freitas.

A Vera. Maria do Rosário, autora dessa iniciativa, falaria também pela Bancada do Partido Democrático Trabalhista, mas num momento como este achei e entendi que a Bancada do PDT deveria também se fazer presente nesta homenagem a Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto. E não querendo, Ver. Lauro Hagemann, transformar esta em uma Sessão de nostalgia, não podemos ignorar uma referência de um passado histórico bem recente, bem próximo de nós, em que as figuras que aqui estão presentes expressam momentos da vida do nosso País nos quase 50 anos da redemocratização, de 45 para a frente. Olhando as figuras que aqui estão, a presença do constituinte de 46, junto com João Goulart, junto com Leonel Brizola, com Júlio Teixeira, com Otto Alcides Ohlweiler e tantas outras figuras, marcaram uma época cujo ciclo, apesar das vicissitudes e das adversidades, não se completou, porque todos os sonhos e aspirações desta geração ainda se constituem em grandes idéias do nosso povo. Eu, olhando as figuras do Taio, do Dulphe, do Ver. Lauro Hagemann, que foram parte da geração subseqüente do “O petróleo é nosso”; vendo o Décio Floriano, meu paraninfo, que não conseguiu ser paraninfo no Colégio Júlio de Castilhos, vendo o Ver. João Verle, o Ver. Clovis Ilgenfritz, vendo os meus companheiros de Bancada e meus contemporâneos de política estudantil, juntamente com José Antônio, que se encontra presente, um dos filhos do nosso homenageado, posso dizer que esta Sessão, embora não tenha um conteúdo de nostalgia, tem de muita paixão, de muita vontade de transformação, de muita história dos tempos presentes e das lutas presentes. Assistimos recentemente, com tristeza, independente das posições contemporâneas, ao que aconteceu a uma figura que marcou esta geração, como Leonel Brizola, que participou desse grupo de Constituintes de 1946 e fez uma votação inferior ao Enéas. Tenho certeza de que isso entristece a qualquer um dos militantes da luta popular, apesar de eventuais divergências que possa haver entre algumas linhas e correntes do pensamento do Movimento Popular. Por isso, acho que esta homenagem que se presta hoje ao Dr. Pinheiro, que é a uma pessoa que, segundo Ver. Clovis Ilgenfritz, foi sempre um referencial da nossa sociedade, porque era um jovem que, com 22 anos, chegou a ser um Constituinte; um jovem que era um referencial de dignidade, de obstinação, de espírito de luta e que marcou, evidentemente, àqueles que participaram das lutas tanto da década de 50, como da minha década, a década de 60. Já no final da década de 60, eu participava lá no seu escritório de advocacia, no edifício Aceguá, junto com Júlio Teixeira e Antonio Machado Netto. São todos momentos de uma história. Não posso me esquecer, também, caro Dulphe, daquela nossa luta de 1974, quando tu eras candidato a deputado federal, e daquela derrota que conseguimos, apesar do clima ditatorial existente no País, eleger todo um conjunto de pessoas e dar uma participação significativa de derrota, de repúdio à ditadura após o Governo Médici, quando teve aquela memorável vitória no plebiscito de 1974, entre MDB e Arena. Todos esses fatos ainda estão muito vivos na nossa memória, estão muito presentes para todos nós porque são fatos que vivemos - todos próximos de todos nós: são os expurgos, as perseguições, as prisões, as cassações que muitos dos companheiros presentes sofreram. Por isso, além da figura do homem público, do advogado brilhante, do lutador, da militância popular de Pinheiro Machado, presta-se uma homenagem a toda uma época, por isso a honra desta Câmara Municipal. Hoje, somada as Bancadas populares desta Casa, ela praticamente detém mais de 90% de participação das Bancadas desta Casa. É uma Cidade que é um referencial, um marco histórico de orgulho e de respeito a todos nós como porto-alegrenses, como brasileiros.

Por isso, Dr. Pinheiro, a nossa satisfação da outorga nesta tarde, nesta Sessão Solene, do Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Companheiro, já tinhas o respeito e a admiração do conjunto dos cidadãos porto-alegrenses, hoje, apenas a Câmara de Vereadores cumpre um ato solene da entrega de um Título a que sempre o Senhor fez jus. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido a todos para que, de pé, assistamos a entrega do Diploma ao homenageado, que será realizada pela Vera. Maria do Rosário.

 

(Faz-se a entrega do Diploma.)

 

Com a palavra o Dr. Antonio Ribas Pinheiro Machado Netto, nosso homenageado.

 

O SR. ANTONIO RIBAS PINHEIRO MACHADO NETTO: (Lê.)

“Desejo, em primeiro lugar, manifestar meu profundo e sincero agradecimento à Vera. Maria do Rosário pela sua iniciativa de propor ao Plenário da Câmara resolução que me outorga distinção, que hoje me é formalmente confiada. Este agradecimento eu estendo a todos os Vereadores que, à unanimidade, acolheram a proposição da nobre Parlamentar.

Em termos continentais, o nosso poeta maior - Pablo Neruda - ao receber o Prêmio Nobel de literatura, observou: ‘como poderia eu erguer a fronte, iluminada pela honraria que a Suécia me outorgou, se não me sentisse orgulhoso de ter tomando uma mínima parte na transformação do meu país?’

Transpondo a imagem para o nosso campanário, eu afirmo: como poderia eu receber a mais alta distinção da minha Cidade, se, desde moço, não tivesse voltado a minha vida e os meus melhores pensamentos para os humildes, os deserdados, os que perderam a esperança? É com esta modesta credencial que me apresento para receber o Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, Cidade que está estreitamente vinculada à minha vida.

Com efeito, mal chegara à maioridade e consagradora votação de porto- alegrenses me levava ao Parlamento Estadual para ser um dos constituintes de 1947.

Um pouco mais tarde, uma vibrante e destacada comunidade esportiva me conduzia à Presidência de seu clube, o Esporte Clube Cruzeiro. Nessa condição, dirigi uma excursão por vários países da Europa, Ásia e África, e o saldo, para satisfação de todos, foi altamente positivo. Assim digo, porque ao retornar a Porto Alegre, recebi do então Prefeito Ildo Meneghetti, simbolicamente, as chaves da Cidade, recepção que eu incorporo aos melhores momentos da minha vida.

Perante o Conselho da Ordem dos Advogados proclamei, certa feita, que fiz o possível - o que reitero hoje - para exercer a profissão de advogado com dignidade, às vezes procurando vencer o medo e resistindo às tentações dos atalhos e galhos fáceis. Penso que o fundamental foi atingido. Tenho para mim que, no exercício profissional da advocacia, o mais difícil é permanecer fiel aos princípios, agir honradamente e ter a coragem de enfrentar os poderosos. Mas não sei - sinceramente declaro - se, depois de tantos anos e após tantas e tantas disputadas forenses, a conduta profissional efetivamente cumprida corresponde e se afina com aquela que foi idealizada. Seja como for, fui sempre considerado um advogado lutador com ativa militância em Porto Alegre.

Todos sabem, houve uma época de tempos difíceis. De perplexidades. De desencontros. Muitos eram animados apenas pela esperança. Eu estava entre estes. Retornei, então, aos bancos universitários. Licenciei-me em História, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ao final desse curso fui laureado, recebendo uma bolsa de estagiário na Universidade de Roma. Foi muito salutar para mim esse mergulho na História Pude melhor avaliar os fatos históricos que marcam as nações e, especialmente a sua dimensão e importância no tempo.

Ainda, quando fluíram os dias dos tempos difíceis, passei a integrar o Movimento Mundial pela Paz, sob os auspícios e coordenação do Conselho Mundial da Paz. Foi uma militância intensa e extremamente gratificante para mim. Convivi e dialoguei com importantes personalidades do mundo político internacional, participando, às vezes ativamente, de congressos, conferências, seminários e debates nos mais diversos países. Mas essa faina a que eu me jogara com entusiasmo e alegria, não me fez esquecer da minha Cidade.

O Conselho Mundial da Paz, em 1987, incubiu-me de uma tarefa de grande significação: coordenar e organizar um Seminário em Defesa da Paz e da Ecologia em Porto Alegre. Graças ao apoio decidido e decisivo das autoridades estaduais e municipais, foi possível em Porto Alegre a presença de cerca de cinqüenta personalidades oriundas de países de todos os continentes. Por sugestão minha, acolhida pela alta direção do Conselho Mundial da Paz, foi outorgado a Porto Alegre o título de ‘Cidade da Paz’, sendo entregue ao então Prefeito Municipal, Dr. Alceu Collares, o diploma respectivo pelo insígne Presidente Romesch Chandra, personalidade de reconhecido prestígio internacional, hoje integrando importante organismo da ONU. Destaco, também, com satisfação que, na oportunidade desse evento, o hoje Vereador, então Governador do Estado, Jair Soares, num gesto que a todos tocou profundamente, abriu as portas de seu Palácio para recepcionar e homenagear os pregoeiros da paz que visitavam Porto Alegre. Lembro, ainda, neste particular, que os Governadores Pedro Simon e Synval Guazzelli, igualmente, foram sempre abertos aos acenos do Movimento pela Paz.

De minha parte, foi uma retribuição e uma justa homenagem à minha Cidade natal, para mim sempre generosa.

Quero dizer-lhes que a unanimidade que marca a decisão com que a Câmara Municipal me outorga o Título de Cidadão Emérito, num primeiro momento, me perturbou. Que teria levado todos os parlamentares da Cidade a me concederem, por unanimidade, tão alta distinção? A mim, homem polêmico e de posições claras e definidas diante de certos fatos e situações, hoje e no passado? Após demorada reflexão, concluí que o gesto de Vossas Excelências mostra que o ser humano tem reservas insuspeitadas e é capaz de, num determinado momento, ficar acima de divergências ou controvérsias e, generosamente, sem concessões, homenagear os que perseguem idéias e horizontes, sem qualquer preocupação de ordem material. Quero reafirmar-lhes que me considero romeiro menor de um ideário alto e nobre, aberto aos que tem preocupações de justiça e dignidade social. Nem por isso me considero necessário merecedor da honraria que agora me outorgam.

Penso mesmo que os homenageados são Vossas Excelências que, num momento de magnífica inspiração, dispõem-se a premiar imerecidamente um dos munícipes desta Cidade, num gesto, como disse antes, impregnado da mais pura generosidade.

Então, como anunciou o poeta, só é preciso agora que ‘ao amanhecer nos armemos de uma ardente paciência para entrarmos nas esplêndidas cidades.’ (Rimbaud)”

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nosso homenageado de hoje, Dr. Antonio Ribas Machado Netto, a autorga do Título de Cidadão Emérito da Cidade de Porto Alegre - que sempre foi uma distinção, um reconhecimento do povo da Cidade para com um cidadão ou uma cidadã que tenha se destacado em suas atividades - a partir de 1992, esta Câmara Municipal decidiu através de uma Resolução, que cada Vereador poderia apresentar a indicação de um título de cidadão por ano. Isso, na verdade, mede a importância desse título, porque dentre toda a população da Cidade onde vivemos, Capital do Estado do Rio Grande do Sul, com mais de um milhão e trezentas mil pessoas, o Vereador, representante do povo, escolhe uma pessoa e a ela traz esta distinção. Entendemos que este Título de hoje alcança uma importância e um significado ainda maiores. Ao nosso homenageado, Sr. Pinheiro Machado Netto, aos seus familiares, seus amigos que aqui estão, nossas saudações, nossos cumprimentos em meu nome particular, em nome da Mesa Diretora da Câmara Municipal de Porto Alegre, e em nome de todas as Bancadas falaram os nossos ilustres Vereadores aqui presentes. Queremos registrar e agradecer as presenças de todos, mais uma vez cumprimentando nosso homenageado.

Declaramos encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h16min.)

 

* * * * *